Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, e considerando as incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 p.p.
Votaram pela manutenção da taxa Selic em 14,25% a.a. os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Luiz Edson Feltrim e Otávio Ribeiro Damaso. Votaram pela elevação da taxa Selic para 14,75% a.a. os seguintes membros do Comitê: Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon.
BACEN. PORTAL G1. 02/03/2016. Pela 5ª vez seguida, Copom mantém taxa de juros em 14,25% ao ano. Taxa básica de juros continua no maior patamar em quase dez anos. Decisão foi tomada em cenário de atividade em queda e alta da inflação.
Alexandro Martello
Do G1, em Brasília
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reuniu nesta quarta-feira (2) e decidiu manter os juros básicos da economia estáveis em 14,25% ao ano - o maior patamar em quase dez anos. Foi a quinta manutenção seguida dos juros pelo BC, que parou de subir a taxa Selic em setembro do ano passado.
Em termos reais (descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses), os juros brasileiros continuam entre os mais altos do planeta. A decisão do BC de manter novamente os juros inalterados confirmou expectativa da maior parte dos analistas do mercado financeiro.
A percepção dos analistas de que a taxa seria mantida nesta semana tinha por base indicações da própria autoridade monetária. Em seu último encontro, em janeiro, o Copom decidiu não subir os juros por conta de preocupações com o cenário de desaceleração da economia mundial e sua repercussão no Brasil.
Mais recentemente, indicou que também não deve baixá-los, consolidando o entendimento de que a Selic deve ficar estável no começo de março. Em termos reais (descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses), os juros brasileiros continuariam entre os mais altos do planeta.
Decisão dividida
Assim como no encontro anterior, a decisão foi dividida. Seis integrantes do Copom votaram pela manutenção e dois pela alta dos juros, para 14,75% ao ano. Votaram pela alta dos juros os diretores de Assuntos Internacionais, Tony Volpon, e de Organização do Sistema Financeiro, Sidnei Corrêa Marques.
Ao fim do encontro, o BC divulgou o seguinte comunicado: "Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, e considerando as incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés, por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 p.p.
Taxa de juros
Ao subir os juros ou mantê-los elevados, o Banco Central tenta controlar o crédito e o consumo, atuando assim para segurar a inflação, que mostrou resistência no ano passado e no início de 2015 por conta da alta do dólar e dos preços administrados – como telefonia, água, energia, combustíveis e tarifas de ônibus, entre outros.
Por outro lado, ao tornar o crédito e o investimento mais caros, os juros altos prejudicam o nível de atividade da economia brasileira e, também, a geração de empregos.
Metas de inflação
O Banco Central tem informado que busca 'circunscrever" a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), à meta deste ano, ou seja, abaixo do teto de 6,5%, e também que quer trazer o índice para a meta central de 4,5% em 2017.
Entretanto, o mercado financeiro não acredita que isso será possível. Para este ano, a previsão dos economistas é de um IPCA de 7,57%, estourando novamente a meta de inflação, e, para 2017, a estimativa do mercado é de 6% - no limite autorizado pelo Conselho Monetário Nacional.
Cenário econômico
O cenário atual é considerado desafiador por economistas, com a forte contração do nível de atividade - a expectativa é de que o PIB tenha registrado em 2015 o maior recuo em 25 anos - além do aumento do desemprego e queda da renda, fatores que, teoricamente, atuam para conter a alta dos preços.
Por outro lado, a inflação continua pressionada pelos preços administrados, como energia e tarifas públicas, e atinge níveis historicamente elevados. Para completar o quadro, o governo pediu permissão para reduzir o superávit primário (economia para pagar juros da dívida) e ter novo rombo neste ano, o que também não é bom para a inflação.
Segundo o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, os preços administrados [como energia e tarifas públicas] "não têm dado moleza". Os preços dos alimentos ainda pesam e também tem a inércia da inflação, a indexação".
Em sua visão, o BC está certo ao não subir os juros. "O BC não está de mãos atadas. Ele está enxergando a inflação desacelerando. Tem que esperar mais uns dois meses para ver se consolida essa desaceleração", avaliou Lima Gonçalves.
O setor produtivo, representado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), se posicionou contra um novo aumento dos juros e representantes dos trabalhadores voltaram a pedir redução da taxa Selic.
"O BC foi correto em não elevar os juros [em janeiro], o que agravaria o quadro recessivo e teria o impacto de deteriorar ainda mais as contas públicas [com pagamento mais alto de juros], sem beneficio maior sobre a inflação", disse o economista da CNI Flavio Castelo Branco.
As centrais sindicais, por sua vez, pedem redução da taxa básica de juros. "Hoje no Brasil não tem investimento, tem especulação. E isso não gera emprego (...) Temos feito nossa parte de traçar estratégias para que o país saia da crise, mas com os juros altos não dá”, declarou Miguel Torres, vice-presidente da Força Sindical.
Repercussão:
a inflação deve começar a perder fôlego nos próximos períodos"
Juliana Inhasz
Juliana Inhasz, professora do Curso de Economia da FECAP
“Essa manutenção já era prevista pelo mercado, pelos sinais que Copom dava nas ultimas semanas. Na prática, ele não tem muito espaço para subir a taxa agora, porque a inflação hoje não é causada pela demanda, mas por preços admnistrados e ajustes de custos que não foram feitos antes. Esse mecanismo de juros para segurar a inflação tem pouco efeito nesse momento. Só é efetivo quando a inflação é de demanda. Boa parte desse ajuste de preços que não aconteceu já está acontecendo e outra parte deve acontecer. Se percebe que a inflação deve começar a perder fôlego nos próximos períodos, mesmo que continue elevada e não feche dentro da meta, deve ser menor que em 2015. Se isso acontecer, ganhamos espaço para reduzir a taxa no futuro. Uma alta agora poderia provocar mais recessão no curto prazo.”
provavelmente o BC vai reduzir a taxa de juros"
Juan Jensen
Juan Jensen, professor de Economia do Insper
"A decisão do Copom não trouxe nenhuma nova informação, mas mostra que a votação ficou dividida. A reunião de janeiro do BC vinha sinalizando para uma alta nos juros, mas houve essa mudança pela estabilidade dos juros e essa nova manutenção sinaliza que o BC mudou sua política monetária. Esse ciclo de aperto não só não vai vir como provavelmente o BC vai reduzir a taxa de juros, porque ele não está mais preocupado em trazer a inflação para o centro da meta em 2017. Tomou a decisão de hoje num contexto em que expectativas de inflação pioraram nas últimas semanas".
Tharcisio Souza Santos, professor das Faculdades de Administração e Economia da FAAP
a prioridade não é juro, deveria ser o lado fiscal do governo
Tharcisio Souza Santos
“O que precisava ter feito era aumentar os juros. Num sistema de metas, enquanto a inflação está resistindo às terapias para reduzi-la, você tem que aumentar a taxa. No Brasil, se abandonou o sistema de metas. E se dependesse dos oráculos de economia do governo, teria uma eventual redução de taxa de juros. Eu não acho suficiente manter a taxa, a inflação está muito alta. [Entre os que defendem a queda da taxa], há a velha argumentação de sempre. As pessoas querem partir para o descontrole das contas fiscais do governo, querem um câmbio manejado ao seu gosto que é para ‘ajudar a economia a crescer’ e ajudar o consumo, Isso foi praticado em larga escala de 2012 até 2014. O resultado estamos vendo agora."
"O que aconteceu agora é que o pessoal do BC está um pouco envergonhado. Não elevaram como deveria, mas pelo menos não tiveram coragem de abaixar a taxa. Pensar em baixar é uma bobagem monumental. Tem que botar ordem na casa. A prioridade não é juro nem câmbio, a prioridade deveria ser o lado fiscal do governo. O governo não tem coragem de atacar e ainda vem falar em CPMF, que é totalmente ultrapassado. Não precisamos de mais imposto, precisamos de menos governo.”
provavelmente o BC vai reduzir a taxa de juros"
Juan Jensen
Rodrigo Mariano, gerente de Economia e Pesquisa da Associação Paulista de Supermercados, em nota
“O governo não tem muitas alternativas e fica evidente que a decisão sinaliza que ele está inerte ao cenário econômico atual e, pior, não consegue articular uma política econômica que tire o país desta queda acentuada da atividade econômica. O quadro recessivo necessário para a redução da inflação virá do remédio amargo, que é a queda da atividade econômica brasileira, que se reflete em um cenário de redução de emprego e renda e, consequentemente, dos preços. (...) A manutenção dos juros indica uma preocupação em não errar na condução da política monetária neste momento, o que gera uma falta de ação momentânea por parte da política monetária. Estamos falando de um impacto da manutenção dos juros em patamares elevados que afetará a economia ao longo dos próximos meses."
em uma economia em forte recessão, a taxa de juros não é o instrumento adequado para que a inflação retorne às metas"
Firjan
Confederação Nacional da Indústria, em nota
"A manutenção dos juros básicos não surpreendeu a CNI. (...) Para a indústria, o Brasil precisa criar as condições que permitam a queda dos juros. A taxa de 14,25% ao ano é muito alta e prejudica o crescimento da economia. A redução dos juros depende de reformas estruturais e de um ajuste fiscal efetivo, que restabeleça a confiança dos agentes econômicos e afaste o risco de uma trajetória crescente e insustentável da dívida pública brasileira, abrindo caminho para a reorganização da economia e à retomada do crescimento".
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, em nota
"A decisão do Banco Central era esperada. Em uma economia em forte recessão, a taxa de juros não é o instrumento adequado para que a inflação retorne às metas estabelecidas. (...) O Sistema Firjan defende de forma incansável um plano fiscal de longo prazo que signifique aumento do superávit primário, via redução dos gastos públicos de natureza corrente. Só desta forma será possível conter a escalada da dívida pública e da inflação, e afetar positivamente a confiança de empresas e consumidores".
Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de SP, em nota
"Todos os indicadores da atividade econômica mostram que a recessão vem se aprofundando e o desemprego, aumentando fortemente. É urgente que se tenha uma política fiscal que sinalize com o equilíbrio das contas públicas, mesmo que gradativo, o que exige forte contenção dos gastos e reformas estruturais do orçamento público, a começar pela Previdência. Esse ajuste, contudo, não pode ser baseado em aumento da tributação, pois qualquer majoração de impostos sobre as empresas ou os cidadãos somente provocará mais recessão".
BACEN. PORTAL UOL. 02/03/2016. BC deixa juros em 14,25% pela 5ª vez e cita riscos e incertezas internas
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. Foi a segunda reunião do ano. Os juros estão nesse nível desde julho do ano passado. É a quinta reunião seguida em que a taxa foi mantida no mesmo nível.
A decisão foi dividida: 6 votos a 2. Dois integrantes do comitê queriam aumentar os juros em 0,5 ponto percentual, indo a 14,75%.
Segundo nota do BC, a decisão ocorreu "avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, e considerando as incertezas domésticas e, principalmente externas".
A Selic influencia todos os juros do país, mas é só uma referência: as taxas cobradas dos consumidores são muito mais altas. Economistas dizem que poupança está ruim como investimento, e o melhor é a renda fixa.
Veja as taxas de juros definidas nas últimas reuniões do BC:
- mar/16: 14,25%
- jan/16: 14,25%
- nov/15: 14,25%
- out/15: 14,25%
- set/15: 14,25%
- jul/15: 14,25%
- jun/15: 13,75%
- abr/15: 13,25%
- mar/15: 12,75%
- jan/15: 12,25%
Previsões
A maioria dos analistas de mercado consultados pela agência de notícias Reuters e pelo jornal "Valor Econômico" apostavam na manutenção da taxa.
"Não há dúvida alguma sobre essa reunião do Copom. É um não-evento", afirmou o operador de uma corretora nacional à Reuters.
Os economistas consultados pelo BC semanalmente para o Boletim Focus estimam que a Selic fechará o ano em 14,25% e cairá para 12,50% no ano que vem.
Juros X Inflação
Os juros são usados pelo Banco Central para tentar controlar a inflação. De modo geral, quando a inflação está alta, o BC sobe os juros para reduzir o consumo e forçar os preços a caírem. Quando a inflação está baixa, o BC derruba os juros para estimular o consumo.
A meta é manter a inflação em 4,5% ao ano, podendo variar entre 2,5% e 6,5%.
No momento, a inflação está bem acima do limite máximo: chegou a 10,84% em 12 meses, segundo os dados mais recentes, da prévia da inflação (IPCA-15) em fevereiro.
Porém, os juros também estão altos e o país está em recessão. Se o BC subir ainda mais os juros, corre o risco de fazer a economia encolher ainda mais.
Juros para o consumidor são mais altos
A Selic é a taxa básica da economia e serve de referência para outras taxas de juros (financiamentos) e para remunerar investimentos corrigidos por ela.
Ela não representa exatamente os juros cobrados dos consumidores, que são muito mais altos.
Segundo os últimos dados divulgados pelo BC, a taxa de juros do cheque especial em janeiro chegou a 292,3% ao ano e os juros do rotativo do cartão de crédito, a 439,5% ao ano.
Como sua vida é afetada pelos juros altos?
- Empréstimos e financiamentos ficam caros (prestação de uma geladeira ou um carro);
- Sobe o desemprego porque as empresas investem menos;
- As pessoas cortam gastos. Isso ajudaria a reduzir a inflação;
- A economia enfraquece (o PIB, Produto Interno Bruto, cai);
- A poupança rende com seu potencial máximo. Quando a Selic está igual ou inferior a 8,5% ao ano, rende menos. Como está acima, vai dar 6,17% ao ano mais a TR;
- Os juros altos aumentam o rendimento com investimentos em certos títulos públicos, como o Tesouro Selic.
(Com Reuters e Valor)
CNI. 02/03/2016. Redução dos juros depende de ajuste fiscal efetivo, avalia CNI. Diante do cenário de recessão econômica e de inflação alta, a manutenção dos juros básicos da economia não surpreendeu a Confederação Nacional da Indústria
Diante do cenário de recessão econômica e de inflação alta, a manutenção dos juros básicos da economia em 14,25% ao ano, decidida nesta quarta-feira(2), pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), não surpreendeu a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O aprofundamento da recessão possibilitaria a redução da taxa, mas a inflação persistentemente alta e distante da meta motivou a cautela do Banco Central.
Para a indústria, o Brasil precisa criar as condições que permitam a queda dos juros. A taxa de 14,25% ao ano é muito alta e prejudica o crescimento da economia. A redução dos juros depende de reformas estruturais e de um ajuste fiscal efetivo, que restabeleça a confiança dos agentes econômicos e afaste o risco de uma trajetória crescente e insustentável da dívida pública brasileira, abrindo caminho para a reorganização da economia e à retomada do crescimento.
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