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September 2, 2015

BACEN, 02/09/2015. Copom mantém a taxa Selic em 14,25% ao ano

Brasília – Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 14,25% a.a., sem viés.

O Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Luiz Awazu Pereira da Silva, Luiz Edson Feltrim, Otávio Ribeiro Damaso, Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon.


PORTAL G1. 02/09/2015. Após 7 altas seguidas, Copom mantém juros em 14,25% ao ano. Em meio à recessão, taxa de juros permanece no maior nível em 9 anos. Decisão confirma sinalização do BC e expectativa do mercado financeiro.
Alexandro Martello
Do G1, em Brasília



Selic 14.25 materia (Foto: Arte/G1)























Após sete aumentos consecutivos nos juros básicos da economia brasileira, implementados desde outubro do ano passado, logo após o fim das eleições presidenciais, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu colocar o pé no freio e manteve, em reunião terminada nesta quarta-feira (2), a taxa Selic estável em 14,25% ao ano.
Os juros seguem, mesmo assim, no maior nível em nove anos, ou seja, desde julho de 2006. Antes do início deste ciclo de alta, em setembro do ano passado, a taxa básica de juros da economia estava em 11% ao ano. Com isso, a taxa Selic, que serve de referência para o mercado financeiro, avançou, ao todo, 3,25 pontos percentuais nos últimos meses.
Ao fim do encontro, o BC divulgou a seguinte frase: "Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 14,25% ao ano, sem viés. O Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016".
Recessão e desemprego em alta
A decisão, que acontece em meio à uma forte queda do nível de atividade, confirmada por meio de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de que o país está em meio à uma recessão técnica - e à alta do desemprego - já era esperada por analistas do mercado financeiro, que apostavam maciçamente na manutenção dos juros nesta semana.
A percepção de que os juros seriam mantidos nesta reunião do Copom se consolidou após indicação do próprio Banco Central. Em julho, a instituição informou entender que a manutenção da taxa básica de juros em 14,25% ao ano, por um "período suficientemente prolongado", é necessária para a convergência da inflação para a meta [central de 4,5%, tendo por base o IPCA] no final de 2016.
Ao manter juros elevados, o Banco Central tenta controlar o crédito e o consumo, atuando assim para segurar a inflação, que tem mostrado resistência neste ano. Por outro lado, ao tornar o crédito e o investimento mais caros, os juros elevados prejudicam o nível de atividade da economia brasileira e, também, a geração de empregos.
Sistema de metas
Pelo sistema de metas de inflação vigente na economia brasileira, o BC tem de calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. Para 2015 e 2016, a meta central de inflação é de 4,5%, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência, pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Em julho, a inflação oficial medida pelo IPCA somou 0,62%, o valor mais elevado, para o sétimo mês do ano, desde 2004. Nos sete primeiros meses deste ano, a inflação subiu 6,83%. Em doze meses até julho, acumula alta de 9,56%, o maior resultado desde novembro de 2003.
O próprio Banco Central já admite que a inflação deve estourar o teto de 6,5% do sistema de metas em 2015. A previsão da autoridade monetária é de que a inflação fique em 9% neste ano. Já o mercado prevê um IPCA de 9,28% em 2015 – o maior patamar desde 2003.
A autoridade monetária tem dito que trabalha para evitar a propagação da inflação neste ano e para trazer a o IPCA para o centro da meta, de 4,5%, até o final de 2016. Os economistas dos bancos, porém, não acreditam que essa promessa será cumprida. A estimativa dos analistas, colhida na semana passadas, é de 5,51% para o ano que vem.
Dólar pressiona inflação
Apesar do cenário de recessão na economia, e do aumento do desemprego, que atingiu, no segundo trimestre deste ano o maior valor da série histórica do IBGE, inciada em 2012, fatores que atuam para conter a alta dos preços, a inflação ainda segue pressionada pelas tarifas públicas (nesta semana foi confirmada alta do gás de cozinha) e pela alta do dólar.
Dólar mais alto barateia as exportações e torna as compras feitas no exterior (quer seja de insumos ou industrializados) mais caras – e os valores geralmente são repassados para os preços finais dos produtos importados, pressionando a inflação.
Nesta quarta-feira (2), o dólar fechou em alta pelo quarto dia seguido, cotado a R$ 3,7598, o maior valor desde 2002, pressionado por preocupações com as contas públicas do Brasil e o risco de o país perder o grau de investimento (selo internacional de bom pagador). No ano de 2015, o dólar acumula alta de 41,41%.
Segundo o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, o resultado do PIB do segundo trimestre confirmou a esperada recessão e indicou que a mesma continuará, observando que o mercado de trabalho teve forte “distensão” (piora). Para ele, porém, a alta do dólar neste ano deverá gera um impacto de 0,2% a 0,5% no IPCA, mantido o atual nível (ao redor de R$ 3,68).

Segundo analistas, o anúncio de que o orçamento do ano que vem, enviado nesta semana ao Congresso Nacional, contempla, pela primeira vez na história, um déficit fiscal (despesas maiores do que receitas) também não contribui para o controle da inflação. A previsão do governo é de um déficit de R$ 30,5 bilhões em 2016, ou 0,5% do PIB. Até então, a estimativa era de um superávit de 0,7% do PIB.
O próprio BC avaliou, no passado, que quanto maior for o esforço fiscal (economia para pagar juros da dívida pública e tentar manter sua trajetória de queda, também conhecido como "superávit primário" no Brasil), melhor é para o controle da inflação – principal objetivo da autoridade monetária. Na proposta de orçamento, o governo prevê um aumento real de gastos.

Inflação já começou a responder a altas dos juros, dizem economistas. Copom decidiu manter a Selic a 14,25% após sete altas seguidas.
Karina Trevizan
Do G1, em São Paulo

Após sete aumentos consecutivos nos juros básicos da economia brasileira, implementados desde outubro do ano passado, logo após o fim das eleições presidenciais, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu colocar o pé no freio e manteve, em reunião terminada nesta quarta-feira (2), a taxa Selic estável em 14,25% ao ano.

Os juros seguem, mesmo assim, no maior nível em nove anos, ou seja, desde julho de 2006. Antes do início deste ciclo de alta, em setembro do ano passado, a taxa básica de juros da economia estava em 11% ao ano. Com isso, a taxa Selic, que serve de referência para o mercado financeiro, avançou, ao todo, 3,25 pontos percentuais nos últimos meses.

Repercussão da decisão do BC:

Eduardo Mekitarian, professor de Economia da FAAP, em entrevista ao G1.
“Estava na hora de passar um sinal para o mercado de alguma coisa positiva. A decisão de não aumentar a taxa de juros sinaliza que o efeito do aumento dos preços que são administrados pelo governo já se diluiu razoavelmente. Portanto, a inflação está começando a ser controlada, isso é uma coisa muito positiva e que já estava mais do que na hora de acontecer. Mas a taxa de juros de 14,25% ainda está alta. O resultado da produção industrial que saiu nesta terça por exemplo é terrível. A taxa de desemprego ainda tem tendência a subir em função da baixa produção industrial. Então a decisão do Copom é também um sinal para os industriais, porque o empresário está sendo asfixiado por ela. Outra coisa também importante é a queda do investimento direto estrangeiro no Brasil. O investimento especulativo vem por causa das taxas. Mas o investimento produtivo este ano caiu 33%. A queda de investimento produtivo de fora pra dentro associada a uma queda de investimento interno é catástrofe. Hoje estamos com uma das taxas de investimento mais baixas entre os países emergentes, é a menor de todas. Cerca de 17% do PIB, isso é irrisório.”

Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, em entrevista ao G1
“Todos os indicadores divulgados nas últimas semanas - emprego, atividade econômica, produção industrial etc - não permitiam mais um aumento de juros. Já existe uma resposta da inflação e da atividade econômica às altas anteriores. Nesse contexto, ficava difícil justificar mais uma alta de juros. A inflação já está começando a dar sinais, as últimas foram mais baixas. Uma parcela disso é uma resposta não só à questão do crédito, mas também em relação à atividade econômica mesmo. Com desemprego em alta, a inflação naturalmente perde força. Se o Copom, ainda neste cenário, subisse os juros, iria gerar um mau humor no mercado que mexeria com a moeda ainda mais e pioraria o quadro inflacionário. Agora, temos que esperar os efeitos defasados das sete altas seguidas. Varia de 6 a 9 meses o impacto da decisão na economia.”

Maurício Molan, economista-chefe do banco Santander Brasil, em entrevista à Reuters.
"A decisão mostra que o BC está bastante confiante de que a política monetária está num patamar apertado o suficiente para reduzir a inflação"

Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), em nota
“A decisão do Copom de manter inalterada a Selic era esperada, tendo em vista a recessão que afeta a economia brasileira - e que vem se agravando rapidamente, em virtude da incerteza no tocante ao ajuste fiscal. Entendemos que a política de aumentar juros para conter a inflação já superou o limite do razoável e que, agora, o BC precisa começar, o mais rapidamente possível, a reduzir a taxa Selic. Por fim, o governo precisa demonstrar claramente que está cortando despesas de custeio e não investimentos."

Miguel Torres, Presidente da Força Sindical, em nota
"A decisão é um escândalo, e coloca uma pá de cal na atividade econômica. Basta ver o resultado do PIB acumulado em 2015, de -2,1%, e a produção industrial acumulada até agora, de -6,6%. Paradoxalmente, o governo derruba a atividade econômica, os empregos e fecha empresas. Mas, por outro lado, injeta anabolizante no setor financeiro, que está crescendo. A Demonstração Financeira dos Bancos mostra que o crescimento médio dos cinco maiores bancos do país, foi, no 1º trimestre, de 21,8%. Enquanto isto, as projeções para a produção industrial, neste ano, conforme o Boletim Focus, é de -5,6%, e o PIB de -2,3%."

CNI.
Manutenção dos juros evita aprofundamento da recessão, avalia CNI. A indústria acredita, no entanto, que o elevado nível da Selic - mantida em 14,25% ao ano - contribui para a deterioração da atividade econômica, com impacto no mercado de trabalho e na renda das famílias.

A decisão do Banco Central de interromper o ciclo de alta dos juros foi acertada, na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A indústria acredita, no entanto, que o elevado nível da Selic - mantida em 14,25% ao ano - contribui para a deterioração da atividade econômica, com impacto no mercado de trabalho e na renda das famílias, afetando a dinâmica futura da inflação.

Para superar a crise econômica, a indústria aponta que o país precisa de uma política fiscal assertiva e de uma agenda pró-competitividade. As dificuldades recentes no campo fiscal, com reduções sucessivas da meta fiscal, e tentativas frustradas de corte de gastos, causam desapontamento nos agentes e mitigam a credibilidade da política econômica, tornando, assim, o ajuste mais longo e mais custoso. O setor produtivo carece ainda de medidas estruturais que sejam implementadas com clareza e celeridade para permitir a recuperação da confiança dos investidores.

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LGCJ.: